A construção de um “muro” com troncos de coqueiro na Praia de Maracaípe, em Ipojuca, no Grande Recife, tem causado polêmica entre moradores, vendedores ambulantes e uma família, que é proprietária de um terreno no local, um dos principais pontos turísticos do Litoral Sul de Pernambuco.
A família Fragoso é dona de uma área em Maracaípe, que inclui parte do manguezal, desde 1970, e tem uma casa à beira-mar. Em frente, na faixa de areia, trabalham vendedores ambulantes, jangadeiros, marisqueiros e outros profissionais que vivem do trabalho na praia.
O impasse começou quando a família, com autorização judicial, começou a cercar a propriedade, alegando preservação ambiental.
Entretanto, o conflito piorou com a construção do “muro” feito de troncos de coqueiro e areia, para conter o avanço do mar. A obra, ainda em andamento, tem autorização da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH).
O problema é que, segundo os trabalhadores, a estrutura afeta o acesso à praia e prejudica o trabalho deles.
Na quinta-feira (25), eles fizeram um protesto contra a construção. A Polícia Militar e a Guarda Municipal foram chamadas e um homem ficou ferido após levar uma pedrada na cabeça.
Entenda, abaixo, o impasse:
🚯 Um dos proprietários falou que, há anos, vem notando que o Pontal de Maracaípe sofre de ‘invasões’ de pessoas que cortam o mangue para fazer festas. Disse, ainda, que muito lixo e restos de alimentos são jogados no local.
🚫 A família Fragoso, então, fez uma passarela e colocou estacas com cordas para definir a área da propriedade. O isolamento, segundo a família, foi destruído, e pessoas atearam fogo à área.
⚖️ Por causa disso, em 2021, a família obteve na Justiça o direito de “cercar e isolar” a propriedade, incluindo o manguezal, “para preservação de sua propriedade e do meio ambiente, sem avançar na área de uso comum do povo, ou seja, de quando cessam as águas até a vegetação existente no local”.
🌴 Em 2022, a CPRH autorizou a construção de um muro para “contenção marítima”, especialmente em frente à propriedade da família, “sem a utilização de pedras ou alvenaria”. A estrutura deve ser feita com troncos de coqueiro e areia, com aval da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), que tem o domínio das praias.
Segundo uma pessoa que trabalha no local, que não quis se identificar, com a instalação do muro, o acesso à praia vai ser limitado, por causa da maré alta. Além disso, também vai reduzir a faixa de areia.
“Arrancou toda a restinga e começou a cercar a praia, prejudicando nosso acesso; porque quando a maré encher, não vai dar para passar. Além disso, os barraqueiros não vão poder botar o comércio deles, porque as coisas vão ficar na água. Prejudica toda a comunidade que depende disso”, disse.
Segundo os ambulantes, palhoças e barracas foram retiradas da praia por funcionários da família, para a construção do muro de troncos. A família Fragoso, em resposta, disse que havia construções em área de preservação permanente e que os comerciantes precisam recolher as barracas no fim do expediente, e não manter barracas fixas no local.
Já uma pessoa que trabalha no local afirmou que os moradores foram ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para tentar barrar a construção.
“Eu tenho 36 anos e trabalho aqui desde que nasci. Toda a comunidade vive do mangue, pesca siri, caranguejo, marisco e vende aos barraqueiros, aos jangadeiros. É toda uma cadeia que vai ser prejudicada por causa desse isolamento da praia”, afirmou.
Respostas
A CPRH informou sobre a autorização para a construção do muro e a agência disse que, diante do pedido dos proprietários, foi feita uma vistoria na área. Nessa fiscalização, a área técnica constatou que havia erosão marítima no local. Por causa disso, a permissão foi dada.
A prefeitura de Ipojuca informou que, durante o protesto da quinta-feira, a Guarda Municipal foi chamada para acompanhar e liberar a via, numa ação coordenada pela Polícia Militar, “por conta do bloqueio feito por moradores da região”.
Com relação ao cercamento, a prefeitura disse que se trata de uma área privada e que “o proprietário tem liminar judicial permitindo isolar o terreno e licença da CPRH”.
A Superintendência do Patrimônio da União (SPU), já quão respondeu até a última atualização desta reportagem.
*Com informações do G1 PE