ANÁLISE-Governo e oposição cantam vitória sobre greve, mas real impacto ainda precisa ser digerido

BRASÍLIA (Reuters) – Cada lado do jogo político cantou vitória sobre a greve geral deflagrada nesta sexta-feira contra as reformas trabalhista e previdenciária, mas a ebulição em torno dos temas continua e a dimensão do impacto da mobilização no humor de deputados e senadores só poderá ser aferida mais à frente.

Enquanto o governo e seus representantes minimizam os atos desta seta-feira, apontando o que consideram uma baixa adesão popular, opositores a Michel Temer e contrários às reformas consideraram esta uma das maiores mobilizações das últimas décadas.

Em uma leitura mais objetiva, analistas afirmam que uma avaliação não é tão simples mas não se pode desprezar o impacto desta sexta-feira na tramitação das reformas no Congresso.

“Não se pode dizer que foi um fracasso, ela foi sentida, isso tem um símbolo muito forte, muito contundente”, disse o cientista político do Insper Carlos Melo. “Isso nunca é bom para o governo e evidentemente não é bom para as reformas, porque tem impacto de opinião pública.”

Melo explicou que uma grande vantagem do movimento desta sexta foi ter mobilizado setores ligados ao transporte público, fazendo com que boa parte das cidades brasileiras, principalmente capitais, sentissem seus efeitos.

“Isso bate no Congresso, isso de alguma forma sensibiliza deputados e senadores? Sim, porque eles percebem que há uma mobilização de setores da sociedade de contrariedade”, afirmou. “Vamos lembrar que a gente esta às vésperas de um ano eleitoral.”

Na mesma linha, o diretor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, Ricardo Ismael, avalia que, de fato, não se pode falar em uma greve geral nos moldes das paralisações em países com tradições trabalhistas mais fortes, como a França. Ele aponta, no entanto, que houve mobilização em âmbito nacional, o que demonstra uma reação de contrariedade.

“A fervura vai continuar, não se pode falar em fracasso”, afirmou Ismael. “Hoje foi um dia que pouca gente trabalhou no país. Mostra que há uma reação contra as reformas apresentadas pelo governo. Os parlamentares estão olhando as imagens da televisão e estão vendo sua base.”

Fonte: Reuters Brasil

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