Pelo quarto mês consecutivo, a economia brasileira criou postos formais de trabalho. Em julho, foram abertas 35,9 mil vagas com carteira assinada em todo o país, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A maior parte dos empregos foi criada pela indústria de transformação, que teve o melhor desempenho do mês, com saldo positivo de 12,6 mil postos de trabalho entre admissões e desligamentos. Na avaliação do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, os números indicam que o país está no “rumo certo”. “O governo federal está tomando as medidas necessárias para colocar novamente o Brasil no rumo do crescimento econômico e da recuperação do emprego”, afirmou.
Os resultados da indústria estão relacionados ao aumento na produção para atender à demanda de fim de ano, segundo Bruno Otoni, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV). “O setor provoca efeito cascata no crescimento de outros segmentos da economia, como comércio e transportes. O bom resultado aumenta a confiança na sustentabilidade da recuperação da economia”, avaliou.
Ronaldo Nogueira afirmou que o aumento de poder de compra do consumidor também pesou para que os setores de comércio e de serviços tivessem um bom desempenho, abrindo, respectivamente, 10,2 mil e 7,7 mil vagas em julho. “Os R$ 44 bilhões retirados das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço permitiram que o trabalhador pagasse contas atrasadas, o que aumenta a capacidade de fazer novas compras e financiamentos”, observou.
Retomada
Outro destaque do mês foi para o setor de construção civil, que gerou 724 vagas de empregos. Apesar de relativamente pequeno, o número foi importante, pois caracterizou o primeiro resultado positivo após 33 meses consecutivos de fechamento de postos de trabalho. O coordenador de estatísticas do Trabalho do Ministério do Trabalho, Mário Magalhães, avaliou que o resultado sinaliza que a retomada da atividade está se generalizando entre diversos setores. “Ainda temos muito o que recuperar”, apontou.
Quem comemorou a criação de oportunidades no setor foi o pedreiro Uílton Santos, 30 anos. Há 15 anos exercendo a profissão, ele amargou o desemprego por dois meses no começo deste ano. “A situação está melhorando de pouquinho em pouquinho. Enquanto estava sem emprego, consegui me manter com um bico ou outro, pois possuo contatos”, lembrou.
Apesar dos sinais de recuperação do emprego no país, 13,5 milhões de brasileiros ainda estão sem emprego, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Lula Sampaio, 25 anos, conhece essa realidade de perto. Há dois meses sem emprego, ele não consegue ver nenhuma melhoria no mercado de trabalho. Mesmo entregando currículos todos os dias em várias empresas, ele ainda não conseguiu ser chamado para nenhuma delas. “O contexto político e econômico do Brasil não favorece. Eu faço serviços gerais e, ainda assim, está complicado. Não vejo repercussão dessa melhora no surgimento de emprego não”, contou.
Tendência
De janeiro a julho, o Brasil criou 103,3 mil oportunidades com carteira assinada. No mesmo período do ano passado, o país havia destruído 623,5 mil vagas. A expectativa do ministro do Trabalho é de que os resultados dos próximos meses sigam a trajetória de crescimento. “O Brasil não terá mais números negativos até novembro”, vaticinou Ronaldo Nogueira. O ministro afirmou que, com as novas regras trabalhistas, que entram em vigor em novembro, o país terá capacidade de gerar 2 milhões de empregos em dois anos.
Na avaliação do pesquisador Bruno Otoni, é exagerado afirmar que o Brasil não voltará a fechar postos de trabalho. “A tendência é a de que novos novos saldos positivos sejam gerados, mas ainda não estou completamente convencido de que saímos da recessão. É preciso ter cautela”, argumentou.
De acordo com as projeções de Otoni, a expectativa é que o Brasil registre saldo positivo de empregos no terceiro trimestre deste ano, com a criação de 92,8 mil postos. Mas as demissões dos trabalhadores temporários em dezembro podem puxar para baixo os resultados do quarto e último trimestre, com a destruição de 481,7 mil vagas. O especialista acredita, que o ano fechará com 353,8 mil empregos com carteira assinada destruídos, bem menos do que os 1,37 milhão fechados no ano passado. Não há dúvida de que estamos em recuperação, mas isso acontece de forma lenta e gradual”, disse.
Cautela
Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos, especialista em mercado de trabalho, o saldo positivo verificado neste ano, até agora, não significa que o Brasil tenha superado a recessão. “Os empregadores só contratam quando sentem que a recuperação da economia está consolidada. Por isso, demora mais para termos um ano positivo”, explicou.