Após ser afetada pela crise que inviabilizou a realização de inúmeros eventos culturais nos últimos tempos, a Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto) quebra o hiato de dois anos e chega para sua 12ª edição, a partir desta sexta-feira. Pode ser considerado um duplo retorno, já que o evento também volta para seu espaço original, a praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, no Litoral Sul do estado, onde surgiu em 2005. Gratuita, a programação vai até o domingo e tem como principais atrações a poeta portuguesa Maria João Cantinho e o escritor e produtor musical Nelson Motta.
Nesta edição, o evento tem como tema Diálogos no Contemporâneo e homenageia, no seu Congresso Literário, o escritor Marcus Accioly (1943-2017), poeta e membro da Academia Pernambucana de Letras. A curadoria da Fliporto é assinada pelo advogado e escritor Antônio Campos e pelo produtor cultural Eduardo Côrtes.
Eixo principal da programação do evento, o Congresso Literário será realizado no Espaço Muru-Muru, no Restaurante Itaoca, localizado na Praça das Piscinas Naturais. O espaço inicia as atividades a partir das 10h de sexta-feira, com painel do ator e roteirista Felipe Folgosi, sobre a força dos quadrinhos na literatura. Uma escolha curiosa, considerando os dois trabalhos do autor no meio, os fracos Aurora (2015) e Comunhão (2017), ambas HQs marcadas pelo desenvolvimento melodramático e previsível.
Aliás, além de marcar a abertura da programação, os quadrinhos e conteúdos relacionados terão mais espaço nesta edição do evento, com a Fliporto Geek, segmento da programação dedicado à cultura pop. Apesar de bem-intencionada, a novidade chega com atrações pouco expressivas e parece apostar apenas na adição do termo “geek” como tentativa de angariar outros públicos. Merece crítica também a inexistência de mulheres entre os artistas convidados nestas atividades.
Apesar do tema desta edição, falta na programação maior atenção a questões, de fato, contemporâneas. A própria presença feminina na Fliporto, a julgar por alguns dos títulos das atividades, como o painel Empoderamento feminino: O papel da mulher no mundo de hoje, repete problema crônico de alguns eventos culturais que, na tentativa de trazer conteúdo, em teoria, mais representativo, acaba por criar uma espécie de aparte no debate mais amplo sobre literatura.